Dois mil e vinte era pra ser mais um ano como qualquer outro. A virada do ano sempre é um momento de planejar o ano que está por vir. Expectativas, sonhos e objetivos a realizar. A meta principal era finalizar a construção da minha casa em janeiro, para em seguida me mudar e enfim começar a retomada da minha vida profissional no mês seguinte. A partir daí eu poderia passar para a outra fase e me concentrar na realização dos meus objetivos.
No início dessa caminhada, a pandemia do novo coronavírus “apareceu” no nosso meio, no nosso convívio. Digo apareceu entre aspas porque em janeiro e fevereiro, os casos estavam restritos à China e posteriormente à Europa e, de certa maneira, parecia não afetar nossas vidas, pois afinal, circulávamos com a habitual tranquilidade nos lugares e seguíamos nossas vidas.
Logo o vírus estaria circulando por aqui e viria o uso das máscaras, aquela sensação de apreensão, para não dizer pânico. Isolamento social, ir ao supermercado, fazer uma reserva de suprimentos e ficar em casa. Parecia algo relativamente simples de enfrentar e logo retomaríamos nossa vida normal, era só uma fase. Eu achava que até junho, na época do meu aniversário, a situação estaria controlada – para ser otimista, a situação estaria praticamente resolvida. Só que não.
Os casos de covid-19 começaram a aumentar e a se alastrar pelo país e desde então, ainda não vimos o fim da pandemia. O “novo normal” se instalou no meio de nós: crianças sem ir para a escola, pais trabalhando em home office, nada de visitas aos amigos e parentes, viagens nem pensar, pessoal da área da saúde atuando na linha de frente como se estivessem numa batalha, hospitais lotados, comércio fechado, pessoas com o contrato de trabalho suspenso ou desempregadas e sem perspectiva de vida.
E quando os casos começaram a diminuir na metade do segundo semestre e pensamos que finalmente iríamos ver uma luz no fim do túnel… bem, vocês sabem que continuamos no escuro esperando a luz no fim do túnel com a chegada das vacinas.
Como vivi e sobrevivi à pandemia? Eu tive a boa sorte de finalizar a minha casa e torná-la habitável e funcional antes do caos se instalar. Eu também já trabalhava no sistema de home office na maior parte do tempo, então não precisei me adaptar e não senti grandes dificuldades. Já era adepta da internet e do online de longa data. Chamadas por áudio e vídeo eram rotineiras na minha vida e como advogada, já utilizava o sistema de peticionamento eletrônico. Até aí, nada de novo.
A novidade mesmo ficou por conta do isolamento e distanciamento social, do uso obrigatório de máscara nos espaços públicos, do uso constante de álcool em gel e na restrição de ir e vir. Muitos planos foram cancelados. A mudança para o escritório físico foi adiada por tempo indeterminado. A volta para a academia ficou pra depois. Os almoços em família na casa do meu avô passaram a não fazer mais parte da rotina. Aquela parada para tomar um cafezinho e comer um docinho na padaria não tinha mais. A expectativa de viajar para visitar a minha mãe que mora no nordeste foi cancelada. E o sonho de ir pra Itália naquele ano… bem, esse ficou relegado em último plano. Apesar de eu não fazer parte do grupo de risco, adotei as medidas de precaução e isolamento como parte da rotina e acreditem – teve quem me criticou por isso. Apesar do trabalho, vi minha situação financeira sofrer uma queda drástica.
O lado bom (sempre tem o lado bom das coisas) ficou por conta das diferentes atividades que pude realizar na minha casa, na companhia dos meus gatos. Eu queria fazer algo totalmente diferente e exercitar a criatividade, extravasar minha veia artística na quarentena. Então, pude desenhar e pintar na parede uma mandala pontilhada, emassar com massa corrida uma parte da parede que faltava na lavanderia, fazer o reboco na outra parte do muro. Aprendi finalmente a fazer pão (e os pães que fiz ficaram maravilhosos), fiz bolo, pizza, panqueca. Participei dos encontros online do budismo, como também de grupos semanais online – um deles de mindful art, outro voltado à construção do processo de escrita; assisti a diversas lives; incluí a meditação e exercícios de alongamento na rotina; li alguns livros, outros comecei a ler e não terminei; estudei um pouco de inglês e italiano; cuidei de flores e plantas e fiz uma horta; participei de duas jornadas online que me ajudaram nesse processo de autoconhecimento.
Foi um período exclusivamente dedicado às vontades do “eu”, por assim dizer. Mais do que isso, foi um período dedicado à manutenção e ao equilíbrio da minha saúde mental, emocional, física e espiritual. Diante da impermanência da vida, aprendi que sempre podemos nos reinventar, e mais uma vez confirmei que nunca é tarde para recomeçar. Foi tão produtivo que hoje tenho material suficiente para compartilhar. Continuo firme em meu propósito de criar valor na minha vida e dos que estão ao meu redor. Recuperei a autoestima e a confiança. Retomei antigos projetos, os quais tinham sido abandonados diante das dificuldades outrora enfrentadas, na absoluta certeza de que tudo correrá bem.
E você, o que fez de diferente na sua rotina para sobreviver à pandemia?
Texto Chrystiane Paul – colaboradora
DEPOIMENTO – COMO PERCEBI, VIVI E SOBREVIVI A 2020
Foto de Julia M Cameron no Pexels
*Os textos dos colunistas em colaboração são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente expressam a opinião do VIVAZIDADE.

Pandemia…
Não por acaso parece nome de doença, né? Apesar de não trabalhar fora, eu não tinha rotina em casa.
Que lugar era aquele? Quem era aquele homem que dormia na minha cama?
Dois meses de “isolamento “ , dez quilos a mais na balança. Não era o vestido de festa apertado era o pijama mesmo, rsrs
Lives, meditação, regime com equilíbrio, bazar, museus, exercícios com cabo de vassoura e cadeira de cozinha, encontros com as Luluzinhas. O on line enfim me fisgou.
Organizei gavetas, desorganizei também. Fiz minha própria comida, queimei panelas – confesso que a louça eu queria quebrar em vez de lavar.
Ahhhh!! Fiz o possível…
Penso aqui com os parafusos da minha cachola, que o” eu virtual” e o “eu ao vivo e à cores” somos a mesma entidade, mas infelizmente vi muitas máscaras através da telinha.
É a vida, como ela é.
Sim, a vida como ela é! Obrigada pelo relato.