Estava lendo todas as homenagens às mães postadas nas redes sociais e pensei: bom seria se todos os dias fossem assim – só de homenagens; mas não.
A gente briga muito com as mães, faz parte do crescimento. Há muito venho brigando com meus filhos, e, certamente, fez parte do amadurecimento deles.
Me lembrei ainda da teoria que eu tinha quando era jovem e sai de casa, a de que “saudade a gente mata no aeroporto”. No caminho para a então casa dos pais, a realidade tomava conta e tudo voltava a ser a rotina que era antes – alguns problemas, dificuldades dos outros familiares, realidades muito fora da minha naquele momento.
Sempre aprendemos pelo exemplo. Uns exemplos são bons e os filhos os repetem porque querem ser como foram seus pais. Outros nem tanto,e os filhos almejam ser e agir completamente diferente exemplo que tiveram. Não adianta, não fugimos disso. Mas, o norte, continua a ser o exemplo. Não as palavras, as horas de “faça isso”, “seja aquilo”.
Um bom dia para o porteiro, falado doce ou brutalmente será o exemplo. Pedir a refeição em um restaurante – educada ou grosseiramente, se tornará o comportamento constante. Como os pais se tratam em público e, principalmente, em particular, a bússola de ensinamento dos filhos.
Não posso julgar que as fotos postadas de ‘Eu amo minha mãe’ sejam falsas. Algumas são incoerentes, mas não falsas.
Já perdi minhas mães há tempos. Não, não eram um casal homo-afetivo. Eu tive duas mães porque fui criada por duas irmãs, ao mesmo tempo.
Minha mãe natural e minha tia, que me adotou no coração, na casa, na vida dela.
Brigava muito com ambas. Tentava me impor, me fazer ouvir. Era ouvida ao mesmo tempo que não davam a mínima para minhas colocações. Era amada na mesma proporção que davam broncas por coisas impensáveis – cabelo, roupa, vocabulário (e olha que hoje falo mais palavrão do que falava à época). Era querida enquanto me cobravam boas notas, bom comportamento.
A vida deu voltas e vim embora. Dois mil quilômetros de distância e um milhão de sonhos. E, de repente, não mais que de repente, me vi repetindo comportamentos que eu abominava; conselhos que eu detestava e exemplos que jurei que não repetiria. Por outro lado, também repeti algumas das lições que me ensinaram.
E pior, quando acontecia alguma coisa e eu não tinha rumo, ligava para as duas, que me davam sugestões completamente opostas e desta polaridade eu encontrava o equilíbrio.
Hoje analiso e percebo que sempre precisei dos opostos para ser quem sou. Sou reflexo das duas e ao mesmo tempo sou eu mesma.
Para meus filhos? Tentei sempre lembrar que Saudade a gente mata no aeroporto.
Texto original – Lembranças de Dia das Mães
Foto by Jonny Lidner – pixabay
