O VivazIdade acompanhou dois episódios de uma série em canal fechado que é a nova moda dos programas que abordam arrumação de ambientes. A apresentadora é uma japonesinha, que mais parece uma boneca de porcelana e auxilia famílias a organizarem suas casas. A diferença deste para os demais programas do gênero é o tratamento que ela dá aos bens que as famílias desejam manter, doar ou jogar fora. Ela ensina o seu método de organização e deixa as pessoas da casa se virarem com a arrumação.
O que mais nos chamou a atenção foi que antes de começar a desarrumação para poder dar início à organização ela faz, junto com a família escolhida, um pequeno ritual de gratidão ao ambiente (casa) e aos bens que ela – casa – protege. Uma coisa simples e que deveríamos fazer todos os dias. Agradecer pelo nosso ambiente, seja de moradia ou de trabalho. Não um pedido de proteção à casa e às pessoas que ali vivem, mas de gratidão sincera pelo todo conquistado, indiferentemente de ser locada, emprestada, financiada ou própria.
Enquanto se assiste ao programa é possível recordar exatamente o que sentimos quando nos mudamos de casa ou de cidade. Organizar o que levar, o que caberá, o que tem valor afetivo, o que torna a vida mais prática, e mexer em quilos de quinquilharias que nem ao menos lembramos haver guardado.
As casas visitadas nestes tipos de programa são sempre muito bagunçadas, caso contrário não seria necessária a visita da organizadora, não é mesmo? Mas, tomemos nossas próprias como exemplo de reflexão.
Muitas vezes guardamos caixas “de nada importante”. Coleções de figurinha, cadernos de receitas que nunca abrimos, bonecas, carrinhos, jogos, canetas… o que quer que seja, que nem lembramos mais nem onde estão ou porque guardamos. Guardamos roupas que usávamos há 20 anos e que além de fora de moda nem nos cabem mais.
Não é o caso de roupas de estação que vestimos vez ou outra, roupas de festa, smokings e vestidos longos que usamos pouco. São os objetos que guardamos, nunca usamos, que tampouco gostamos, mas que estão acumulados e ocupando espaço nos armários.
Sem falar quando não continuamos guardando material de quem já saiu de casa. Filhos, irmãos, pais, ou companheiros que por uma razão ou outra se mudam, não levam todos seus pertences e a casa continua como depósito.
Lençóis, toalhas, louças, panelas, material de escritório, pneus, coisas velhas não usadas. Eletrônicos não descartados, quadros não emoldurados, presentes não usados. Material de artesanato que não fazemos mais, mas quem sabe volto a fazer um dia… (isso há quinze anos). Material esportivo do esporte que não damos mais conta de praticar ou porque a tecnologia avançou tanto que os torna imprestáveis.
São prateleiras de objetos sem sentido algum para o momento atual de vida, que atravancam a casa. Quem não tem guardado alguma preciosidade destas para o caso ‘vai que preciso’?
Sabe o que precisamos nesta fase da vida?
Uma mesa grande para recebermos amigos. Pode ser na varanda, na sala ou ainda na cozinha. E nos forçarmos a chamá-los para ocupar seus lugares – à mesa e na nossa vida. Nem que seja para um cafezinho. Melhor se naquele esquema de cada um trazer um prato que tanto fazíamos na adolescência para criar festinhas de última hora.
Precisamos de roupas confortáveis para fazermos caminhadas ou passeios de mãos dadas com nosso amor nos parques da cidade, no campo ou na praia. Nas viagens para destinos nunca antes visitados ou enquanto assistimos televisão ou ainda, quando somente ficamos juntos em casa.
Precisamos colecionar sorrisos e muitas risadas. Pode ser ainda lágrimas de alegria, pois os bons sentimentos nos preparam para atravessarmos os momentos dolorosos da vida.
Precisamos cultivar flores na alma. Plantar autoestima em quem atravessa nossa existência. Elogiar quem nos faz bem e mais ainda quem não nos faz – despertando neles o que tem de melhor.
Precisamos de tempo. Tempo para cuidarmos nos nós mesmos – meditando, orando, reconhecendo a grandeza do Universo, na crença de cada um.
Precisamos de menos bens materiais e mais conectividade com as pessoas. Precisamos ter menos para organizar e mais para aproveitar.
