Tempos atrás li uma reportagem que trazia um dado estarrecedor, de que idosos japoneses estão se sentindo cada vez mais solitários e praticando pequenos furtos, de forma escancarada, para serem presos. Lembro que fiquei muito mexida com a informação à época.
Hoje, conversando com uma amiga, surgiu o tema da solidão, da minha visão de solidão, solitude, ficar sozinha num futuro próximo. Lembrei-me da história e comentei com ela.
Com ajuda do tio gugou vim pesquisar. Não encontrei material muito vasto de referências do Japão na pesquisa. A reportagem mais recente sobre o assunto, de agosto deste ano, em um site para nisseis, é uma releitura da que li em 2018. Um novo dado foi apontado pela jornalista na matéria. Segundo as previsões, em 2026, 40% da população japonesa será de idosos. No começo dos anos 2000 era de aproximadamente 28%.
Afora a solidão, que outros fatores poderiam fazer com que idosos dos grandes centros e do interior estejam praticando delitos de forma dolosa (conscientes do ato e com o intuito de serem pegos pela polícia)?
De acordo com as reportagens: – a cultura japonesa de os filhos ficarem responsáveis por cuidar dos pais idosos – mas esses mesmos filhos agora têm dificuldade para se manterem por conta da volatilidade de emprego, dificuldades econômicas mundial, que faz com que migrem para outras cidades e os pais não os acompanham; alto custo para manter a moradia, alimentação e saúde; o fato de a aposentadoria continuar sendo paga enquanto o idoso está na cadeia, ou seja, uma economia dos seus recursos; e um fator importante: as penitenciárias no Japão são lugares onde se pode viver, nem tem como comparar com as nossas, brasileiras.
A reportagem da revista Época Negócios, apresenta ainda outra questão importante, como o governo japonês está lidando com o problema. De acordo com a revista, o governo japonês teve que ampliar a capacidade carcerária e recrutar mais guardas prisionais do sexo feminino, uma vez que o número de mulheres idosas condenadas está aumentando rapidamente. E ainda adaptar os presídios já existentes para receber esta população. E financeiramente, lidar com o aumento vertiginoso da fatura dos tratamentos médicos para presos.
Uma das prisões perto de Tóquio, em Fuchu, atualmente conta com quase um terço dos presos com mais de 60 anos.
Voltando à solidão, segundo as reportagens, algumas pessoas, ainda que tendo onde morar, se sentem invisíveis na sociedade e os parentes não lhes dão atenção, e pelo que entendi, nesse sentido, dentro da prisão haveria mais ‘amizades para serem construídas’, além da alimentação garantida 3 vezes ao dia e assistência médica.
Se de um lado nos movimentamos no sentido de desfrutarmos uma velhice com qualidade de vida, esses exemplos nos servem para ficarmos alertas, como pessoas e como cidadãos. Nossa população idosa está aumentando, não na mesma velocidade da japonesa, mas os sistemas de prevenção devem ser pensados e acionados. Enquanto não tivermos políticas públicas efetivas que atendam demandas da velhice, o resultado pode ser o mesmo do Japão em alguns anos.
Mas será que nós, brasileiros, pensaríamos em ir para uma penitenciária por conta de solidão e garantir uma cama? Não creio, mas fiquei alerta novamente depois da conversa de hoje.
Fontes: Epoca Negócios
Imagem: reportagem Coisas do Japão.