Todo mundo sabe da importância do protetor solar. Mas a verdade é que nossos corpos precisam de sol.
A luz do sol pode melhorar nosso humor, diminuir a pressão arterial, fortalecer nossos ossos, músculos e até mesmo nosso sistema imunológico.
E basta uma breve exposição para colher todos estes benefícios.
O poder do sol
Basicamente, sem a luz direta do sol, nosso corpo não é capaz de produzir vitamina D, substância que desempenha uma série de funções importantes no nosso organismo.
Quando a luz do sol atinge a pele, nosso corpo a absorve e a converte nesse poderoso nutriente.
Nós precisamos de vitamina D, por exemplo, para que nosso organismo absorva cálcio e fosfato dos alimentos — ambos minerais são vitais para a saúde dos ossos, dentes e músculos. E não importa sua idade.
Um estudo recente mostrou, inclusive, que tomar vitamina D melhorou a força muscular de atletas, possivelmente por estimular o crescimento das células musculares.
Mas os benefícios da vitamina D vão além de fortalecer nossos ossos e músculos.
Pesquisas também mostram que pessoas com níveis muito baixos de vitamina D correm mais risco de doenças cardíacas, diabetes e demência.
A vitamina D é tão essencial para a nossa sobrevivência que pode ajudar a explicar o surgimento da pele clara.
Quando nossos antigos ancestrais saíram da África, eles tinham a pele escura para protegê-los da alta incidência de luz solar na região. Mas, à medida que se espalharam para o hemisfério Norte — mais frio e escuro —, a sua pele foi clareando ao longo da evolução, provavelmente porque elas se adaptaram a precisar de menos luz do sol para produzir vitamina D.
Quanto mais ao norte você vai, mais claro o tom de pele tende a ser — com exceção dos inuítes no extremo norte, que tradicionalmente obtêm sua vitamina D comendo focas e peixes gordurosos.
É verdade que também é possível obter vitamina D a partir de certos alimentos — como ovo, leite e peixes gordurosos (salmão, por exemplo). Mas é muito difícil obter a quantidade adequada apenas por meio da dieta.
Felizmente, podemos obter nossa dose diária ao ar livre (e de graça).
Muito além da vitamina D
Além disso, a vitamina D não é o único benefício proveniente dos raios solares.
Todos nós sabemos como a luz do sol nos faz sentir bem — isso porque a exposição ao sol melhora nosso humor, aumentando a liberação no cérebro de um hormônio chamado serotonina, que também ajuda você a se sentir calmo e focado.
Não é à toa que durante os longos meses de inverno no hemisfério Norte, quando há menor incidência de luz solar, muita gente sofre do transtorno afetivo sazonal (SAD, na sigla em inglês), tipo de depressão resultante de baixos níveis de serotonina.
Estudos mostram que as pessoas apresentam níveis mais altos de serotonina no sangue em dias claros, em comparação com dias nublados e cinzentos.
Além disso, há pesquisas que sugerem que a luz solar direta pode fazer com que as células da pele produzam endorfinas, que também geram sensação de bem-estar.
Tempo de exposição
Mas essa exposição deve ser feita de forma consciente — de modo a evitar queimaduras, câncer de pele e o envelhecimento precoce.
A quantidade de sol que você precisa para produzir a quantidade ideal de vitamina D é pessoal — depende do seu tipo de pele, de onde você mora e da sua sensibilidade. O mais importante é não se queimar.
Peles mais escuras, por exemplo, possuem uma quantidade maior de melanina, pigmento que age como um filtro solar natural, absorvendo a radiação e protegendo a pele de danos.
E isso acaba impedindo que a vitamina D seja produzida com a mesma facilidade — sendo necessário um tempo maior de exposição.
Em um país tropical como o Brasil, a Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda que as pessoas conheçam seus próprios níveis de vitamina D e façam reposição oral, caso isso seja recomendado por um médico. E incentiva a exposição ao sol de áreas cobertas da pele, como pernas, costas e barriga, por cinco a dez minutos por dia, todos os dias.
Pouco e com frequência
Você pode ficar tentado a tomar sol o dia todo, mas a maior parte da vitamina D é produzida logo que você sai ao ar livre. E minimizar longos períodos de exposição ao sol também é a melhor maneira de evitar consequências negativas, como queimaduras.
“A vitamina D é realmente produzida nessa primeira exposição inicial, então (pegue) pouco (sol) e com frequência”, sugere Webb.
Se você vai se expor por mais tempo e corre o risco de se queimar, é fundamental proteger sua pele.
“A mensagem principal é nunca se queimar de sol, isso é muito importante”, diz ela.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda o uso de filtro solar com fator de proteção solar (FPS) 30 ou superior, assim como cobrir as áreas expostas com roupas apropriadas.
Vale lembrar que alguns produtos para a pele — e, inclusive, medicamentos — podem afetar sua sensibilidade ao sol.
Arregace as mangas
Você pode achar que o sol no rosto é suficiente, mas para aproveitar realmente os raios solares ao máximo, deve expor os antebraços e as pernas também.
“Cada pedacinho de pele desprotegida exposta ao sol produzirá vitamina D. Portanto, quanto mais pele você expõe, mais está colocando vitamina D em sua circulação”, explica Webb.
E será que vale a pena sair de casa para recarregar a vitamina D mesmo em um dia nublado?
“(As nuvens) reduzem a luz do sol, então você não produz tanta vitamina D durante o mesmo tempo de exposição, mas ainda assim recebemos bastante radiação ultravioleta, pelo menos através de nuvens claras. Se estiver chovendo muito, é provável que haja muito poucos raios ultravioleta lá fora. Mas certamente se for um dia nublado, você pode sair.”
*Na série Just One Thing (Uma Única Coisa), da Rádio 4 da BBC, o médico Michael Mosley aborda em diferentes episódios o que você poderia fazer por sua saúde se tivesse apenas uma escolha.
- A reportagem completa aqui – BBC Brasil
- Imagem: Getty Images