Centrada, alheia a tudo ao redor, com olhos fechados, a mulher tentava esquadrinhar dentro de si todo o baú de ferramentas para se vestir para a batalha.
Inicialmente buscava a aceitação. Os questionamentos “E se”; “Por que comigo”; “ah, eu não merecia” não faziam parte de seu vocabulário.
Acreditava que pelo simples fato de estar viva e a vida não ser um sonho lindo da Disney, a probabilidade de uma experiência que a desafiasse era ampla. Até mais do que a possiblidade de não a ter. Uma referência à lei de Murphy: pontual e específica.
Buscou focar a atenção.
Atenção a si mesma e àqueles que a rodeavam. Passou por momentos de cansaço sem fim que tomou conta de tudo. De apreensão gigantesca corroendo o racional. De uma tentativa de lágrima forçada, como se compaixão fosse o que lhe aconteceria mais naturalmente. Mas não era.
Em seguida, ainda em postura de lótus, abriu o cadeado de sua gaveta mental de atitudes.
Saíram de dentro desta caixa lembranças, palavras que proferiu para ajudar outras pessoas. Palavras acalentadoras e verdadeiras.
Se em um momento estas palavras tiveram importância para serem ditas aos outros, qual o motivo agora para não serem ouvidas, por ela mesma?
Mais um momento e libertou novamente sua a força interior. Sua luz, vivacidade e a vontade de superação. Passearam no ar trechos de mantras, orações e silêncios interiores.
Não, não haveria mais luto e sim luta. Não haveria negociação.
Ela queria pé na estrada, decisão. Empoderar-se para ganhar objetivo, sem escoras ou amparo simulado.
Percebeu que ela era luz e esperança. Esperança numa força maior e de energia que suplantasse qualquer negatividade.
Permaneceu ali. Pernas dobradas, respiração lenta, coração compassado. Assim se manteve e o tempo passou. Acabou por não dar sentido à dor que em realidade não existia; à dúvida que não seria esclarecida e por fim, se desvencilhou de si mesma.
Não precisava retomar seu momento de introspecção. Carecia apenas abrir os olhos e visualizar ao seu redor.
O mundo continuava com seus próprios horrores e maravilhas. Escândalos se misturando a novas descobertas científicas. Acidentes contemporizando à comiseração. A batalha era dela e de ninguém mais.
Desta forma, calmamente ela abriu os braços, respirou fundo e trazendo as mãos ao peito fez um gesto de agradecimento. Era só o que faltava para a aceitação total do seu momento. Um “e que assim seja porque estou pronta!”. Virou-se para trás e percebeu que havia uma criança ali esperando por ela. A pequena lançando um grande sorriso pediu “me leva tomar um sorvete?” Saíram em paz.
E, juntas soubemos que a vida continuava em sua desordenada rotina. Sempre igual e a todo momento repleta de novos desafios e surpresas.
*Texto: Giana Benatto
- Imagem livre: Monstera, por Pexels.