Estamos sem palavras e em lágrimas. Cada vez que acompanhamos uma morte exposta na mídia choramos. Choramos pelo susto, pela imprevisibilidade. Pela precariedade da vida.
Choramos por não entender a razão do tal “chamamento”. Choramos pelo vácuo que a repetição das notícias em todos os meios de comunicação vão criando. Até quem não acompanhava os acontecimentos, se solidariza.
Que lições podemos tirar de um momento de dor?
Um: A dona Morte não pede passagem. Ela chega sorrateiramente e bum!, está feito o estrago.
Dois: Não sabemos nada nesta vida. Nada mesmo além de que as duas certezas máximas são: Nascemos e morremos. Sem saber quando, como nem o porquê. Podemos até filosofar acerca do assunto, buscar estudos sociológicos, religiosos, antropológicos e todos os “gicos’ do dicionário. Ainda assim, não sabemos. Nos agarramos às teorias com as quais mais nos identificamos para justificar nossa pretensa aceitação. Ainda mais quando dona Morte vem assim – de roldão e faz um strike.
Três: A vida é curta. Muito curta.
Nem que tenhamos cem anos, ela sempre parecerá curta em relação ao universo, à grandiosidade inexplicável de nossa existência. Um minuto pode ser muito tempo quando da espera pelo remédio por quem agoniza de dor; e ao contrário pode ser muito longo ao se tomar a injeção que curará. Pode ser muito curto quando damos um beijo de despedida, e pode ser muito longo quando esperamos o retorno daquele que está para chegar.
Quatro: Não deixemos para amanhã o amor que podemos viver hoje. Entreguemo-nos, amemos, soframos, nos apaixonemos mais e mais todos os dias. Não esperemos o encantamento vendido nos contos de fadas. Vivamos o possível, o verossímil.
Cinco: Não deixemos para o amanhã quem desejamos ser hoje. Que mantenhamos o foco, a busca por conhecimento e aprimoramento. Com os nãos e sins que os dias nos trazem, procuremos ser o melhor que podemos ser hoje.
Seis: Abracemos quem nos são queridos, pais, mães, parentes, amigos, companheiros, cúmplices de vida e de festa. Abraço retendo o calor de todos num aperto longo. Coração com coração. Entrega total neste momento.
Sete: Respeitemos o humano e o divino que vive em nós. Não precisa ser o santo, o curador da humanidade. Simplesmente que nossas ações para com a humanidade sejam como gostaríamos de sermos tratados, cada um a seu modo. Sem mais, nem menos.
Oito: Respeitemos o humano e o divino que vive ao nosso lado, não importa qual o papel dele no desenho da vida. É só repetir para com os outros a norma número sete desta lista.
Nove: Tratemos o Universo com carinho. Ele sobreviverá sem nossa presença, mas nós, ao contrário, não sobreviveremos sem este ambiente. Não digo no sentido de nos tornarmos monge ou ermitões. Mas o do não desperdício dos recursos naturais e científicos à nossa disposição.
Dez: Sejamos gratos. Gratidão até pelo que não entendemos ou não temos. Gratidão pelas oportunidades, pelas realizações passadas e vindouras. Gratidão pela Luz que clareia a nossa própria escuridão. Grato pela escuridão que faz com que não sejamos ofuscados por esta mesma Luz num ciclo constante de novos desafios, novos encontros e buscas.
Lembremos que além de não pedir passagem a dona Morte é soberana e nos aplica incansavelmente o ensinamento da finitude, na forma e nas datas que menos esperamos.
Só nos resta aceitar e retomar os ensinamentos mais e mais.
Texto de Giana Benatto Ferreira
Foto – Karina Cubillo – Pixabay