Não há como falar de jornalismo no Brasil sem citar Gloria Maria. Incansável repórter e apresentadora, que galgou o reconhecimento e inveja dentro e fora da televisão brasileira.
Glória Maria até hoje atua na rede Globo. Sua história reflete a mulher aventureira, desbravadora, insistente e inteligente que boa parte dos leitores vivazes cresceram acompanhando em frente às câmeras. Sem falar que foi a primeira apresentadora negra de televisão, fato muitas vezes ignorado pela própria mídia. Embora ela nunca tenha se colocado como vitimizada, foi a primeira pessoa pública a recorrer à lei que coíbe o racismo ao ser barrada em um hotel de luxo no Rio de Janeiro, e denunciou o fato na televisão.
Criou polêmica quando sustentou, em 2017, que embora reconheça o preconceito e o racismo, ela se entende como um ser humano (independente da consciência negra, amarela ou branca – pela frase de Morgan Freeman – em post replicado por ela) que batalha muito pelo que acredita, e que sim, sofreu preconceito, mas nem por isso deixou de procurar seu lugar onde acreditava que deveria estar: “… Temos que tentar sempre encontrar nosso próprio caminho! Sem criticar e condenar o dos outros! Cada um precisa combater o racismo da maneira que achar melhor! Lembrando sempre do direito e da opinião do outro!sou negra e me orgulho. Mas não sigo cartilhas . Minhas dores raciais conheci e combati sozinha! Sem rede social para exibir minhas frustrações! Tenho direito e dever de colocar o que penso num espaço que é meu! Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar!”
Não vale citar referências quanto à idade – Glória Maria é atemporal. Representa o que muitas mulheres desejam a vida toda: amadurecer sem ter que informar a idade a quem não entenda ser necessário, pois idade nada mais é que um número. E, nela, representa de forma imperiosa a ideia de que envelhecer vale a pena. Qualquer que seja sua idade cronológica, ela simplesmente se apresenta em pleno vigor físico, disposição, alegria de viver e desfrutando de um maternidade tardia e intensa.
Glória Maria é carioca, já formada em jornalismo, conseguiu seu estágio na Rede Globo depois de se apresentar com seu bloco carnavalesco de rua no Programa do Chacrinha. Em 1970, foi efetivada no setor de jornalismo e sua primeira reportagem para a Rede Globo foi sobre a queda, em 20 de novembro de 1971, do elevado Paulo de Frontin.
No decorrer dos anos, firmou-se como âncora e apresentadora de diversos programas jornalísticos, entre eles RJTV, Jornal Hoje e o Fantástico. Tem um currículo de fazer inveja a muitos jornalistas internacionais, com entrevistas marcantes – com artistas e políticos do Brasil e do mundo – e contabiliza mais de 15 passaportes e 160 países visitados. Como repórter apaixonada por aventuras, subiu o Himalaia três vezes; visitou várias vezes a Índia; desceu correntezas, cachoeiras e viralizou nas mídias quando fumou maconha na Jamaica. Europa e Estados Unidos, não sabe nem contar quantas reportagens e desafios jornalísticos esteve à frente.
Sua carreira dentro da emissora continua sendo sólida. Ano passado estava como repórter especial do Globo Repórter, mas por conta de uma cirurgia de um tumor cerebral, se encontra em licença médica.
Com tantas aventuras e desafios no currículo, segundo ela, a maior proeza de sua vida foi a adoção, em 2009, das filhas Laura e Maria, num processo que levou dois anos, e começou enquanto fazia trabalho voluntário em uma creche em Salvador – Bahia, durante seu período sabático de 2005 a 2007.
Plena, poderosa, sorridente e verdadeira. Nada mais justo que receba esta homenagem no Dia Internacional da Mulher.
Foto: r7.com