O mercado de trabalho é a resposta às necessidades da população de um determinado local. Cresce ou diminui de acordo com a demanda, tal qual o mercado econômico. Como a população mundial está envelhecendo, informação referendada pelos dados de censos demográficos mundiais, a movimentação de profissões em torno do idoso também tem crescido na última década.
Somente no Brasil, de acordo com o Ministério do Trabalho, em 2018, o número de cuidadores de idosos aumentou em 547%, sendo considerada a profissão que mais cresceu no período e que mais crescerá no futuro, uma vez que a expectativa de vida do brasileiro aumenta e muitos vivazes precisarão de acompanhamento próprio para as necessidades desta faixa etária.
Enquanto em nível governamental as discussões para a criação da profissão de cuidador de idosos continua, no mercado esta lacuna é preenchida por pessoas das mais diversas – de familiares dos idosos que se revezam no cuidado integral dos “seus velhinhos” a enfermeiros com especialização para idosos.
O que tem se visto muito na mídia e que cresce de forma bem acentuada também, são os chamados netos de aluguel. Pessoas que não são cuidadores e sim acompanhantes de idosos, nas mais diferentes situações – de levá-los para passear, academia, e outros afazeres, como também permanecer com os idosos escutando suas histórias, relembrando o passado, simplesmente fazendo companhia para eles quando a família não consegue estar presente. Não têm jornadas de trabalho com horário fixo. São prestadores de serviço com horários variados e atendem situações pontuais.
Neste caso tem-se duas situações distintas – o cuidador é o profissional que atende aqueles que demandam cuidados de saúde, por alguma debilidade física ou mental, com necessidades específicas, que permanecem com o idoso em jornada normal de trabalho, e o neto de aluguel um acompanhante faz muitas vezes o papel de um familiar, em atividades cotidianas. Algumas vezes cuidador e acompanhante se confundem no mesmo profissional. Entretanto, o que o mercado de trabalho tem denominado ‘neto de aluguel’ é um prestador de serviços singulares – ensinar computação, dança, transportar idosos ao banco, ao supermercado, a consultas médicas, passeios, ou se encontrar com amigos e familiares, aqueles pequenos afazeres que os familiares fariam e que por diversas razões, não fazem.
Pode-se encontrar na internet vários relatos de netos de aluguel. A primeira vez que o Vivaz Idade ouviu falar de ‘neto de aluguel’, foi em uma reportagem onde um motorista, sem certeza agora se de táxi ou aplicativo, havia ido buscar uma senhora e suas amigas para irem ao teatro. Conversa vai, conversa vem, o grupo comentou com o motorista que, ao menos duas vezes por semana, saia junto para ir ao cinema, ao teatro, ao shopping ou à casa uma das outras, e que precisavam de um motorista somente para estas situações. Como gostaram do atendimento dele, ofereceram a ele a oportunidade fixa deste trabalho esporádico. Semanas depois de começar a levar e buscar o grupo para atividades das mais variadas, uma das senhoras estava com dúvidas sobre como usar algum aplicativo no celular, o que ele, pacientemente, ensinou.
A senhora em questão disse que o recomendaria para outras amigas, cujos familiares tampouco tinham paciência para ensinar. Assim, de motorista, se transformou em professor de uso de aplicativos no celular. Tempos depois, uma amiga das senhoras do primeiro grupo, precisava aprender também a mexer no computador, para coisas básicas – como abrir e enviar emails, ou escrever uma carta e arquivá-la, serviço que também aceitou.
O que para uns parece tão comum e simples, para a geração que viu nascer tanto o computador quanto a internet e conseguiu viver sem estes recursos, mexer com aparelho celular e computador não é assim tão descomplicado e instintivo. Ainda mais quando os mais novos – no caso, os filhos e netos – não têm a mínima paciência para ensinar. Simplesmente pegam e fazem tão rápido que os mais velhos só respondem com a cabeça um sinal de sim, murmuram um ‘arran, entendi’ e continuam sem saber como utilizar tais aparelhos e aplicativos.
Segundo a reportagem, o rapaz percebeu que ali havia uma demanda muito forte e que ele tinha jeito e paciência para tratar com pessoas mais velhas, e muito importante, havia a propaganda feita por um grupo que havia experimentado e gostado de seus serviços. Ele se autodenominou neto de aluguel. Isto mudou completamente sua própria vida e das pessoas com as quais lidava. O marketing do negócio era por indicação boca a boca, e tempos depois ele já tinha uma carteira respeitável de clientes. Entretanto, o que mais havia chamado sua atenção, era quão grande e potencial este mercado consumidor se mostrava.
Seja qual for o nome que se dê aos novos serviços, a demanda de serviços para com idosos só tende a crescer. Serviços onde se sintam acolhidos e não sejam tratados como peso morto da sociedade. Maquiagem, fotografia, visagismo, grupos de leitura, corrida e ginástica (todas as formas de atividade física), cursos de informática dentre outros, voltados para a faixa etária dos vovôs e vovós. Quem souber perceber as brechas e inovar no mercado sairá ganhando.