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Recorte de um dia chuvoso

Posted on 18 de julho de 202115 de julho de 2021

A chuva cai mansamente desde cedo. O respingar das gotas de chuva lança no frescor do ar um barulhinho bom de água que pinga e escorre. É uma percussão natural que hoje se revela gentil. Não nos fiemos, porém, na gentileza da vez. Às vezes, o vento, por pura provocação, traquinagem ou brabeza, é quem controla a sinfonia das gotas que se lançam daquelas nuvens que avisto daqui do meu estúdio.

O respingar sonoro, entretanto, sugere uma orquestração harmoniosa entre os tipos diferentes de superfícies de impacto, tais como as folhas largas e grossas das bananeiras próximas ao muro interno, as folhas em filetes dos inúmeros pés de coqueiros, as poças no solo natural e as poças em piso duro, o telhado. Ouço também gotejar dentro de alguns objetos largados pelo jardim e pela horta.  São latas, copos, xícaras que se transformaram em lar de plantas no passado e hoje, vazios delas, ressoam em sustenidos e bemóis o respingar que vem do céu.

De longe, o bem-te-vi, sempre muito assíduo às suas funções na natureza, grita para avisar os companheiros que os gaviões não estão na área no momento. Como resposta, há um tipo de gargarejo longo e agudo, que demonstra um momento de felicidade e paz. Logo, quando a chuva passar, os saguis virão em busca de pequenas lagartas que, fixadas às superfícies das folhas pelos casulos, se fartam de seu tecido suculento e nutritivo, abrindo-lhes buracos de todos os tamanhos. Eles também chegam atraindo nossa atenção para ganharem frutas que são compartilhadas entre todos. A banana é quase sempre garantida. Já o mamão e a manga, não com tanta frequência.

Nesse exato momento, a água que escorre pela calha ao lado soa como uma torneira aberta. A gata Mimia está sobre a mesa de tampo de vidro com bordas vermelhas, antiga porta de uma geladeira da Coca-Cola que foi adaptada para essa função. Ela brinca de olhar para baixo através da transparência do tampo e parece querer pegar algo que consegue ver, mas não acessa. Maya, a cachorra vira-lata da cor da areia da praia, chega para cobrar um pouco de atenção, também. Ela adora afagos nas costas.

Diante da fotografia narrada em palavras mesmo mudas de voz, mas cheias de consistência e significado na folha de papel virtual na tela do meu computador, as expectativas ganham força. As dores e os medos também. Coisas de dias de chuva.  Sobre as paredes coloridas do estúdio, as traças se multiplicam e arrastam cada uma a sua casa montanha cima. Os leques coloridos pregados na parede amarelo-queimado se destacam. Tem para todo gosto! São lembranças da China, do Vietnam, do Tai Chi Chuan, de gente que já se foi e de gente que ainda dança à lua cheia. Um caju acaba de se desprender e cair sobre o telhado, rolando até a borda sem despencar de lá para o chão. Ficará lá em cima sem ser notado, até se decompor completamente ou brotar um novo cajueiro de sua castanha. A vida nunca é inútil. A morte também não.

A chuva deu uma pausa. Ao longe, os bem-te-vis, um sabiá e um bando de jandaias podem ser ouvidos. Pedrinho, o vira-lata caramelo, se aproxima e se deita, enrolando-se ao redor de si mesmo aos meus pés. O som do avião que corta o céu destoa e por alguns segundos, distorce tudo que tem cor. Parece um trovão longínquo que se desfragmenta em meio aos sons da natureza.

Chulé, a gata preta e branca com uma mancha na pata traseira que lembra piche no pé, acaba de atravessar o quintal a caçar lagartixas e pequenos insetos. Vaidosa que é, quando à toa, gosta de lamber seus pelos longos e macios lentamente.

Diferentemente de Ginger, o gato autista que mora em lugares altos do quintal e vive em seu mundo zen, Chulé está sempre à procura de aventuras.

Aqui, nesse mundo de gente, plantas e animais, o mundo ganha tons poéticos que se transformam em histórias, em devaneios, em sonhos.

A chuva volta a cair, tudo vai acontecer novamente, os sons, o frescor no ar. A leitura do momento é que será outra, com toda certeza.

Texto em colaboração Giédre Benatto

Photo by Pawel Kornacki from FreeImages

2 thoughts on “Recorte de um dia chuvoso”

  1. Bruna Saraiva Negreiros disse:
    19 de julho de 2021 às 17:01

    A escritora consegue nos transportar sempre para o mundo que descreve com tantos detalhes. Consegui até sentir o cheiro da chuva. Mágico! Parabéns.

    Responder
    1. Giana disse:
      3 de agosto de 2021 às 11:53

      Gostosa esta sensação de nos tele transportarmos, não? Obrigada pelas palavras.

      Responder

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