Tenho uma vida marcada por muitas aventuras em todos os campos, e dentre eles, o da sexualidade. Sempre gostei de explorar minhas curiosidades sexuais e afetivas. Algumas dessas explorações me deram quase nada em troca, apenas dúvidas pairando acima da minha cabeça, talvez. Outras, enriqueceram e ainda nutrem minhas convicções nesses dois campos, e outras apenas me ensinaram o que não é bom para mim, o que eu devo evitar se quero ser feliz com minhas escolhas.
Semana passada, eu dialogava com uma amiga sobre o que significa a “ressaca moral” para as mulheres. Nós, mulheres, vivemos com uma carga enorme de culpas moralistas ocas, que a maioria dos homens desconhece. Talvez conheçam ao avesso. Alguns homens, os mais sensíveis às belezas do mundo e do ser, sentem sim não somente pressões desnecessárias para provar sua masculinidade o tempo todo, como sentem culpa ou “ressaca moral” a afogar-lhes a alma por se sentirem impelidos a replicar comportamentos machistas estruturais sem que eles o sejam. São poucos, mas entre esses há os mais audaciosos, que refletem sobre isso, reconhecem o problema, tomam para si a missão e lutam contra todo tipo de preconceito a partir de si mesmos.
E como lidar com uma sociedade que não consegue aceitar que mulheres sejam donas de sua sexualidade, com vida sexual ativa e proativa, mesmo (e principalmente) na maturidade?
Sou uma mulher de 58 anos, dinâmica, de estatura e porte médios, gosto de atividades físicas, de caminhar, andar de bike, nadar, correr, subir montanhas, procurar caminhos. Gosto de ter que decidir onde vou pisar assim como gosto de ouvir de quem já fez o caminho dicas, lições. E por isso sempre me pergunto por que ainda é tabu falar sobre sexo com nossos filhos quando são adolescentes, e depois, quando somos maduros, é igualmente difícil falar sobre nossa própria sexualidade com eles. Se o assunto “sexo” surge numa roda em que estejamos eu e minha filha, ela certamente se sentirá pouco à vontade de falar de si, ou de me ouvir falar a meu respeito. E ela tem 38 anos!
Há sete anos eu e meu companheiro temos uma relação tranquila. Tudo normal até aí. Quantos casais se enamoram na maturidade! Acontece que ele é muito mais jovem que eu! Somos, em geral, um casal bem típico, apesar da diferença de idade. Temos uma vida sexual bastante ativa, e uma vida conjugal tranquila. Gostamos de nossos trabalhos, de curtir natureza, de receber amigos, de comida boa e bom papo, de cultivar plantas e proteger animais. Nada de discrepante em um casal normal. Porém, o fato de ser eu a mais velha da relação provoca um verdadeiro fascínio no imaginário das pessoas, quando percebem que somos um casal. A gente consegue ver as interrogações girando em torno dos olhos dos novatos à nossa relação. A sociedade é imatura para esses casos e as curiosidades e comentários, em geral, recaem sobre a mulher na relação.
Na verdade, casais como nós desfrutam de algumas vantagens sobre casais normais, entre 30 e 40 anos. As mulheres maduras sabem do que gostam no sexo, e não têm mais a chateação de preocupações com gravidez indesejadas ou métodos contraceptivos que lhes prejudiquem o prazer ou a saúde, ou os dois.
A libido baixar na maturidade, é normal, mas não obrigatória, difere de pessoa para pessoa. Entretanto, há maneiras de estimulá-la, saudavelmente. O mercado oferece excelentes estimulantes, como brinquedos sexuais, filmes, contos, além de cremes e fármacos destinados a melhor umidificação da vagina, se esse for o problema. O importante é respeitar o que aprendemos ao longo da vida sobre nós mesmas, nossos corpos e nossos limites. Acredito que ser feliz sexualmente na maturidade demande coragem, empenho e reconhecimentos. Isso! Reconhecimentos.
Texto – Giédre Benatto em colaboração
Foto – Irina Nedialkova